por Angela Fleck Wirth
Segundo Laplanche e Pontalis: identificação é um processo psicológico pelo qual um individuo assimila um aspecto, uma propriedade, um atributo do outro e se transforma, total ou parcialmente, segundo o modelo dessa pessoa. A personalidade constitui-se e diferencia-se por uma série de identificações.
Não é o objetivo deste verbete esgotar a riqueza e complexidade do termo. A identificação é central na teoria freudiana do desenvolvimento psicossexual do indivíduo. Não possui uma definição sistemática, assim selecionamos alguns pontos para ilustrar a sua elaboração.
Freud, na Interpretação dos Sonhos, mostra como através da identificação podemos “sofrer por toda uma multidão e desempenhar sozinho todos os papeis de uma peça teatral”. Neste mesmo texto define: “Assim, a identificação não constitui uma mera imitação, mas uma assimilação à base de uma pretensão ideológica semelhante; ela exprime um “tudo como se” e tem sua origem em algo comum que persiste no inconsciente”.
Em Totem e Tabu, associou a identificação à fase oral ou canibalística do desenvolvimento da espécie ao se referir à relação dos filhos com o pai morto da horda primitiva, que “no ato de devorá-lo realizam sua identificação com ele”. Em nota de 1915 acrescida aos Três Ensaios, Freud descreve o precursor do mecanismo psíquico da identificação como “incorporação oral”.
A identificação, em Luto e Melancolia, mostra a historia dos vínculos libidinais que são estabelecidos entre o Eu e o Outro. A perda de um objeto narcisisticamente investido ocasiona “uma identificação do Eu com o objeto abandonado”. Essa identificação, denominada “ narcísica”, é total, a libido colocada no objeto perdido retorna ao Eu. Ela difere do modelo descrito na Interpretação dos Sonhos, denominado identificação histérica, que é parcial.
O capitulo VII de Psicologia de Grupo e a Análise do Eu descreve três modalidades de identificação. Primeiro, constituindo uma forma de vínculo emocional com o objeto pré-edípico (identificação primária). Segundo, ligada ao complexo de Édipo, substituindo um vinculo libidinal através da introjeção do objeto no Eu. Terceiro, uma percepção de qualidade comum com outra pessoa que não é objeto das pulsões sexuais. Essa ultima acompanha a noção de Ideal do Eu.
Em O Eu e o Id , o Supra-Eu aparece como resultado da transformação em identificação das primeiras ligações da criança com os pais. O processo pelo qual um investimento objetal é substituído por uma identificação é central na constituição do psiquismo, constituindo a base do que Freud descreve como “caráter” de uma pessoa. O desinvestimento dos primeiros objetos amorosos derivadas do complexo de Édipo formam o núcleo do Supra-Eu. O Eu se forma a partir de identificações que possuem investimentos amorosos abandonados pelo Id.
Na XXXI das Novas conferencias introdutórias, Freud abre o campo para pesquisa Transgeracional. “Via de regra, os pais e as autoridades análogas a eles seguem os preceitos de seu próprio Supra-Eu ao educar as crianças. Assim, o Supra-Eu das crianças é construído segundo o modelo não de seus pais, mas do Supra-Eu de seus pais. (....) A humanidade nunca vive inteiramente o presente. O passado, a tradição da raça e do povo, vive nas ideologias do Supra-Eu e só lentamente cede às influencias do presente, no sentido de novas modificações.” Conclui: “Eu próprio não estou satisfeito, em absoluto, com esses desenvolvimentos a respeito da identificação”.