por Regina Orgler sordi
A ideia de um funcionamento mental inconsciente é central em todas as teorias psicanalíticas, tanto dos processos normais quanto dos patológicos. A hipótese básica foi formulada por Freud, na virada para o século XX, a partir de sua educação científica e filosófica e inclui a visão de que uma grande parte do aparelho mental (organização relativamente estável no indivíduo) funciona fora da área da experiência consciente.
Comparando inicialmente o funcionamento do aparelho mental com o conhecido arco reflexo da neuro-fisiologia, Freud lançou as bases sobre a relação entre três sistemas que comporiam a mente – o Inconsciente, o Pré-Consciente e o Consciente, que ficou conhecido como a teoria topográfica.
O Inconsciente e o Pré-Consciente são considerados sistemas que ocupam regiões mais amplas na mente, sendo que a consciência representa um sistema especial e que compreende todos os pensamentos acessíveis num dado momento. Segue-se o Pré-consciente, que seria uma espécie de ante-câmara da consciência, sendo que, seja sob circunstâncias apropriadas ou por esforço da vontade em evocar, ingressam na mesma.
O Inconsciente é formado pelo conjunto de fenômenos que ficam impedidos de ingressar na consciência. É constutuidio de uma energia – uma quantidade de impulsos primordiais e instintivos – que se manifesta constantemente e exerce pressão para dar vazão e encontrar certo alívio ou satisfação. Para que essa energia permaneça inconsciente, ela deve passar por um ato de censura ou recalque. Para saber contra quais tendências a censura é dirigida, Freud respondeu que se tratam das tendências consideradas repreensíveis e indecentes de um ponto de vista moral, social e estético, obedecendo apenas às exigências das pulsões sexuais e agressivas.
Representações indesejáveis na entrada entre os dois sistemas Inconsciente-Pré-consciente sofrem o recalque, ou seja, um contra-investimento, pelo qual, o sistema Pré-Consciente se protege dos impulsos da representação inconsciente.
Já podemos vislumbrar aqui um novo ponto de vista – o econômico - para além do topográfico, no qual o recalque explica-se também por meio de uma combinação sutil de desinvestimentos, reinvestimentos e contra-investimentos referentes às representações (imagens, ideias) do impulso .Finalmente, o ponto de vista dinâmico, palco privilegiado do processo analítico, nos remeterá a buscar os motivos do recalque.
O sistema inconsciente possui uma coesão que lhe é própria. Nele, só existem conteúdos fortemente investidos e para os quais não há nem negação, nem dúvida, nem temporalidade, sendo sua marca específica, o que Freud chamou de processo primário, isto é, uma extrema mobilidade de intensidades de investimento, ou o que se chama de energia livre. Suas principais características são: deslocamento e condensação.
No trabalho do sonho, por exemplo, temos que um elemento altamente investido é substituído (deslocado) por outro, mais fracamente investido, de modo que o sonho receba outro centro e pareça estranho. A condensação, por sua vez, faz de uma só representação, o representante de numerosas séries de associações entrecruzadas.
Nos desenvolvimentos psicanalíticos posteriores a Freud, importantes autores foram complementando, ampliando e até construindo novas visões sobre o Inconsciente, tais como, Klein, Bion, Winnicott, Lacan, Laplanche, Green, Matte-Blanco, dentre outros, mostrando o vigor de se seguir pensando neste conceito que é lapidar para a psicanálise.