Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre (SPPA)

ANO 22 • • Nº 42

ÓRGÃO OFICIAL DA SOCIEDADE PSICANALÍTICA DE PORTO ALEGRE

Porto Alegre | RS

Autora

Maria Cristina Garcia Vasconcellos

Psicanalista. Membro Efetivo da SPPA

A Psicanálise no diálogo para pensar o futuro

Difícil falar em futuro quando vivemos em um mundo no qual, além das guerras, precisamos lidar com o terror, com a intolerância e com os fanatismos que impedem a criação de um espaço intermediário onde seja possível construir o diálogo e o convívio com as diferenças. Na falta desse espaço, também fica ausente a possibilidade de expandir o pensamento, o que nos enclausura cada vez mais em um mundo narcísico, em que não só as diferenças, mas também os limites da realidade, são considerados como ataques à preservação deste mundo totalizante. O pensamento primitivo, que considera eu/bom e não eu/ruim, predomina nas polarizações amplamente difundidas em nossos dias, as quais têm sido utilizadas de forma oportunista, em geral na direção contrária a um pensamento libertador para o sujeito, seja em nível individual ou coletivo. Tudo isto interage em um circuito fechado que, se não for objeto de questionamento, estreita as nossas possibilidades de viver em um mundo compartilhado.

Ao longo do ano de 2023, na SPPA, procuramos pensar este mundo no sentido de compreender como nossas teorias psicanalíticas podem ajudar a dar forma a um futuro em que tanto viver a experiência emocional quanto construir a subjetividade estejam preservados. Passamos por temas complexos, como o medo, as sexualidades hoje e as novas tecnologias, entre outros, os quais abordamos a partir de diferentes perspectivas, buscando o diálogo com várias áreas do conhecimento para ampliar nossa escuta também a partir de outros vértices.

Escolhemos para este jornal o debate sobre as novas tecnologias, na medida em que estas vêm se desenvolvendo de forma mais rápida do que a possibilidade de compreendermos seus impactos nas relações e no humano. Trata-se de algo que precisamos acompanhar com a atenção necessária na medida em que tais tecnologias, além de constituírem instrumentos que facilitam em muito as nossas vidas, também têm o potencial de interferir em nosso psiquismo e na forma como lidamos conosco e com o outro.

A experiência humana é complexa. São várias as dimensões que nos constituem, nem todas elas apreensíveis de forma direta ou por meio de instrumentos de medição objetivos. Nosso vértice de observação para o humano justamente lida com o que não tem substância material, mas que, de maneira significativa, interfere em nossa subjetividade, em nossas ações e escolhas. Em sendo assim, seguimos na SPPA debatendo, pensando e construindo modelos para compreender a experiência que, ao mesmo tempo que nos constitui como humanos, também vai construindo o mundo em que vivemos e no qual poderemos viver o nosso futuro.

Pensamentos para o futuro

Sujeitos do futuro

Construindo modelos para o futuro