Em 2021, dentro do Comitê de Mulheres e Psicanálise da SPPA (COWAP/Brasil – SPPA), foi criado um grupo com o objetivo de estudar e compreender a sexualidade feminina. As integrantes deste grupo elaboraram o trabalho “O feminino e as questões de gênero: de Lilith à contemporaneidade”*, selecionado para ser apresentado na categoria de temas livres do 29º Congresso Brasileiro de Psicanálise, que ocorreu no início de novembro em Campinas, SP.

Neste trabalho, as autoras se valeram de vários teóricos psicanalíticos, desde os clássicos até os mais contemporâneos, bem como das discussões que emergiram entre elas. A partir de cuidadosa revisão bibliográfica sobre o tema, entendeu-se que o feminino faz parte da constituição do psiquismo masculino e feminino desde os seus primórdios. Ficou-se com a concepção de que o feminino pode ser entendido como substantivo, estando presente na constituição do psiquismo humano desde a sua estruturação.

Este reconhecimento pode abrir perspectivas para novas reflexões e, entre elas, o questionamento se estaria ocorrendo um menor recalcamento do feminino. Vive-se um momento da cultura em que as fantasias são colocadas em ato, como se não houvesse o limite entre estas e a realidade, acompanhando o borramento das fronteiras entre o virtual e o presencial, o privado e o público, o interno e o externo.

O que estaria determinando tais fenômenos? As psicanalistas optaram pela hipótese da gênese multifatorial. A cultura contemporânea dos excessos, das fronteiras fracamente definidas e da volatilidade dos vínculos são alguns fatores significativos na construção identitária. Também ficou entendido que, ao ampliar o conhecimento, expandem-se naturalmente as margens para novas ideias e outros interesses de estudos.

Mulher Madura - Com o término deste trabalho, o grupo passará a estudar, sob o enfoque psicanalítico, a sexualidade da mulher madura, as questões da menopausa e os reflexos desta fase. Para as participantes, trata-se de um tema muito importante e atual, merecendo continuar a ser estudado. O enfoque será não somente nas perdas, tais como as funções de reprodução e a decadência corporal, mas também nas aquisições dessa fase da vida. Além disso, pretende-se estudar a cultura contemporânea tendo como inspiração a mulher, inclusive no cinema. Em estreita conexão a este processo, encontram-se algumas tendências de defesas e fugas utilizadas para amenizar as dores psíquicas inerentes à mulher na menopausa, pautada pela passagem do tempo.

Em um mundo em que a medicina promete rejuvenescimento, é possível que a mulher se curve a tais anseios para fortalecer o narcisismo feminino, ligando-os a complexos do desenvolvimento, procurando reprimir um estado de falta. O conjunto de estudos é uma proposta um tanto ousada, existindo pouca bibliografia sobre essa fase da mulher. Nesse sentido, o grupo propõe-se a tarefa de capturar, desfazer e refazer a enredada trama da feminilidade da mulher madura.