Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre (SPPA)

ANO 23 • • Nº 43

ÓRGÃO OFICIAL DA SOCIEDADE PSICANALÍTICA DE PORTO ALEGRE

Porto Alegre | RS

Autora

Maria Cristina Garcia Vasconcellos

Psicanalista. Membro Efetivo da SPPA

Por que a formação psicanalítica?

  • É através do processo de formação que desenvolvemos os instrumentos necessários para exercer o nosso ofício

[…] o objetivo da análise é mais amplo do que apenas a resolução dos conflitos intrapsíquicos inconscientes, a diminuição de sintomatologia, o aumento da subjetividade reflexiva e autocompreensão, e o aumento do sentimento de competência pessoal. Embora o sentir-se vivo esteja intimamente entrelaçado com cada uma das capacidades mencionadas acima, acredito que a experiência de sentir-se vivo é uma capacidade superior às outras e deve ser considerada como um aspecto da experiência analítica em si mesma. (Ogden, 1995)

A partir da proposta de Thomas Ogden para a psicanálise, podemos pensar o significado da formação de um psicanalista. Para alcançar a possibilidade de experimentar o sentir-se vivo e auxiliar o outro a fazer o trajeto necessário para tal, é preciso trilhar caminhos árduos e enfrentar resistências ao longo da andança, uma vez que nos deparamos com dores nada fáceis de serem vividas. Dores nossas e também dos pacientes. As resistências surgem de ambos os lados, pois, em nosso ofício, usamos como instrumento as nossas emoções, assim como a capacidade de viver e suportar as experiências vividas, nem sempre fáceis.

Disto surge a necessidade da formação analítica. Mais do que um “curso" no qual aprendemos uma técnica, a formação favorece uma transformação pessoal. Na SPPA, na condição de membros da Associação Psicanalítica Internacional, seguimos os parâmetros dessa instituição para a formação psicanalítica: a análise pessoal, a supervisão de casos de análise e os seminários teóricos. É o conhecido tripé da formação, que, em seu conjunto, favorece a transformação através da aquisição da função analítica - uma expansão das capacidades de nosso psiquismo capaz de permitir um trânsito mais livre entre consciente e inconsciente, além de nos habilitar a olhar para nós mesmos e para o outro com uma verdadeira disposição de ver, de sentir, de se afetar, enfrentando as angústias e vulnerabilidades inerentes ao viver.

Pensando por essa perspectiva, trata-se de um percurso que não tem fim, que permanentemente se renova nas nossas experiências de vida. Contudo, por que seguir trilha tão árdua? Por que fazer a formação? Porque através desse processo desenvolvemos os instrumentos necessários para exercer nosso ofício. Conquistamos o espaço psíquico necessário para lidar com as dores que se apresentam, as nossas e as dos outros, sem fugir da experiência do sentir, permitindo-nos viver a beleza da vida e encontrar a liberdade para o viver criativo dentro de nós mesmos, que pode, então, ser compartilhada com os demais.

REFERÊNCIA:

Ogden, T. H. (1995). Analisando formas de vitalidade e desvitalização da trasnferência-contratransferência. Livro Anual de Psicanálise, vol XI, 175-188.