Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre (SPPA)

ANO 23 • • Nº 44

ÓRGÃO OFICIAL DA SOCIEDADE PSICANALÍTICA DE PORTO ALEGRE

Porto Alegre | RS

Autora

Cátia Deon DallAgno

Editora do Jornal

Conselho Editorial

Kátia Ramil Magalhães

Diretora de Publicações

Laura Meyer da Silva

Comissão Editorial

Leonita Beatriz Tramontina Serena

Comissão Editorial

Carla Brunstein

Comissão Editorial

Ana Paula Mezacaza Filippon

Comissão Editorial

A psicossexualidade humana e suas novas perspectivas em debate

  • “Sensualidade”, Vala Ola.

    Trio chinês Unmask Group: Liu Zhan, Kuang Jun e Tan Tianwei, esculturas com finas folhas de metal.

Para a psicanálise, a sexualidade ocupa um lugar diferente daquele presente no imaginário popular, pois ela é central na estruturação do psiquismo. Ao final do século 19, enquanto trabalhava com pacientes histéricas, Freud começou a perceber a importância da sexualidade na construção da sintomatologia destas mulheres, compreendendo que elas seriam portadoras de uma sexualidade inadequada ou incompleta. Em 1900, com a Interpretação dos Sonhos, Freud descobriu o inconsciente e, neste primeiro modelo de organização mental, ele teorizou a existência de vivências infantis de cunho afetivo e sexual presentes no inconsciente que, caso estivessem ligadas a traumas, iriam se transformar em sintomas. Mais tarde, em 1905, ele escreveu os Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, causando um grande tumulto na Viena da época, uma vez que abordou a sexualidade nas crianças, até então consideradas seres cuja pureza transcendia o sexual. Com os três ensaios, Freud desnuda a existência da sexualidade desde cedo nos seres humanos, considerando que o desenvolvimento da libido ocorreria em três momentos importantes da infância, o oral, o anal e o fálico, surgidos ao longo dos quatro ou cinco primeiros anos de vida. Após esse período, a criança entraria em fase de latência, com o seu psiquismo preparado para a aquisição de conhecimentos como parte da aprendizagem, o que auxiliaria também no fortalecimento do ego.

Na puberdade, em consequência do desenvolvimento corporal e hormonal, a sexualidade infantil, com todas as suas vicissitudes, deveria ser retomada e reelaborada até que o seu desenvolvimento completo culminasse em uma sexualidade adulta.

Para a psicanálise, a sexualidade humana é considerada uma psicossexualidade, uma vez que não se pode separar as vivências sexuais e afetivas de seu representante psíquico. Durante toda a sua obra, Freud desenvolveu essas ideias e, depois dele, muitos outros teóricos da psicanálise passaram a ampliá-las. Na contemporaneidade, o debate psicanalítico em relação à sexualidade tem ocorrido em torno de complexas questões que envolvem o feminino e o masculino, o gênero e as neossexualidades, entre outras, abordadas por uma perspectiva clínica, social e cultural. A psicanálise e os psicanalistas, sempre abertos ao novo que se apresenta na cultura, têm se debruçado e pensado sobre as muitas questões relativas à sexualidade contemporânea, aliando-se inclusive a outras disciplinas, como a sociologia e a antropologia, em uma tentativa de compreensão dos mistérios que envolvem a profundidade da mente humana.

Tendo em vista essas perspectivas, a equipe editorial do jornal da SPPA elegeu como seu tema central, para a presente edição, os novos conhecimentos que estão sendo pensados em relação à sexualidade humana, mais particularmente a psicossexualidade. Para ajudar-nos nessa tarefa, convidamos dois colegas de nossa Sociedade que estudam o assunto, Sérgio Lewcowicz e Maria da Graça Motta, para que tecessem comentários a respeito de suas descobertas. Com vasta experiência clínica, a ginecologista Carla Vanin vem complementar nosso trio de entrevistados.

Além da matéria central, essa edição traz artigos inéditos sobre o tema escritos por alguns colegas, o psicanalista argentino Eduardo Tesone, o psicanalista da SPPA Maurício Marx e Silva e o grupo Cowap: O Feminino, também representado por membros de nossa instituição. Além disso, trazemos informações preciosas sobre as atividades desenvolvidas por nossas diretorias e comissões no semestre que agora finda, bem como sobre aquelas que acontecerão no ano que se aproxima.

Boa leitura a todos!