Autora
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Kátia Radke
Presidente da SPPA
A importância da escuta institucional
Gostaria de começar citando a escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, que enfatiza a importância fundamental de nos abrirmos às várias histórias que podem ser criadas em torno de um mesmo fato. Ela diz que “a história única cria estereótipos... eles fazem com que uma história se torne a única história”. Essa ideia remete à importância da nossa escuta psicanalítica, que precisa ser aberta e permeada pelo “surpreender-se com o novo”, para que não sejamos reféns de estereótipos fechados.
O presente número do Jornal da SPPA ressalta a relevância de sermos convocados a releituras de algumas situações que, embora não tão novas, se reatualizam na contemporaneidade, solicitando-nos um novo olhar, como o trabalho que realizamos ao longo do ano — e que continuaremos a desenvolver — sobre racismo e novas configurações sexuais.
É importante destacar que nossa abertura também está permeada pela dor. Estamos nos encaminhando para o encerramento de um ano marcado por tragédias no Rio Grande do Sul, resultando na perda de muitas vidas. Em termos mais próximos, enquanto instituição, vivemos a dor pela perda precoce de colegas como Manuel Pires dos Santos e Joyce Goldstein, uma psicanalista que fez contribuições significativas aos temas relacionados à comunidade, tanto na SPPA quanto na Federação Psicanalítica da América Latina (Fepal). Assim estamos passando o ano de 2024, que nos fez vivenciar intensamente a dor e, com ela, tentar aprender.
Olhando para o futuro, já podemos enxergar a nossa tão esperada jornada, agendada para 2025 e intitulada “Os destinos do traumático na contemporaneidade”. Posso antecipar que contaremos com três convidados, Norberto Carlos Marucco, Alessandra Lemma e Isildinha Baptista Nogueira, além de vários colegas da SPPA.
Vemos uma Sociedade pujante e muito ativa: atualmente, temos 248 membros, dentre eles 108 participando ativamente de Diretorias e/ou Comissões, o que traduz a fertilidade e a riqueza da nossa SPPA. Meu profundo agradecimento a todos que têm colaborado para que possamos ter uma Sociedade tão viva!
Desejo que, enquanto psicanalistas, possamos colaborar para que o traumático encontre caminhos criativos para o seu desfecho. Uma ótima leitura!